Thursday, April 18, 2024

O DESASSOSSEGO DE UM DESPEITADO

Ouvi ontem a entrevista de M J Avilez a Passos Coelho. Já tinha lido e ouvido alguns comentários esparsos sobre essa entrevista sem lhes ter dado grande atenção por rejeição saturante de tantos comentários e comentadores sobre este e mil e um outros assuntos tão frequentes e previsíveis como as ondas do mar.

Ouvi algo dignamente novo? Algo que não tivesse previsto ainda antes das eleições que passaram para  Passos Coelho e Paulo Portas um tição engendrado por José Sócrates  que só poderia queimar-lhes as mãos e as carreiras políticas? 

Ouvi nesta entrevista Passos Coelho desvendar que tinha, antes das eleições em 2019 terem acontecido, tido conhecimento ou indícios válidos que António Costa tinha preparado o, ainda inédito em Portugal, golpe de cintura que, sem ganhar as eleições, poderia legitimamente ser primeiro-ministro mandando passos para a travessia do deserto. Se assim foi, e foi Passos Coelho que o disse, Passos Coelho, por desmedida ambição de ser primeiro-ministro por qualquer custo ou ingenuidade quixotesca, assumiu em 2011 o ónus e o ódio que o irão marcar a seguir até hoje.

A entrevista de M J Avilez termina com Passos Coelho dizer e a repetir-se que não sente (só agora?) qualquer constrangimento em intervir na praça política. 
Interpretação linear minha: O actual quadrante político à direita do PS, até ao mais extremo dos extremismos daquele lado, possui potencial mais que suficiente para vingar Passos Coelho do golpe de cintura, até então inédito, de António Costa em Julho de 2015.
Ganha André Ventura, muito conhecido de Passos Coelho.
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Transcrevo a seguir, na íntegra, o que escrevi aqui neste caderno de apontamentos em 2 de Junho de 2011, dia anterior às eleições:

PASSAGEM DE TIÇÃO


c/p de aqui

Se no próximo domingo os resultados das eleições confirmarem os das sondagens mais recentes, tudo leva a crer que PSD e CDS se coligarão para governar o país, o mesmo é dizer, para aplicar a receita da troica.

Porque, dificilmente, haverá margem para ficar aquém sem colocar em risco a solvência do país, ou possibilidade de ir mais além, tantos são os objectivos a alcançar e tão apertados são os prazos e as condições impostas. 

As probabilidades de fracasso não são menores que as probabilidades de sucesso. Mas, tanto num caso como noutro, a receita obriga a esforços que podem espoletar distúrbios sociais em larga escala. Que não deixarão de ser assanhados pelos dois partidos anti-sistema.

Qual será o comportamento do PS, fora do Governo, se a maré alta do descontentamento saltar para a rua? O PS é subscritor do memorando (MoU) mas a aplicação deste  não obedece a critérios tão objectivos que não possam provocar diferenças de interpretação e os resultados diferentes leituras logo à partida. Repare-se, por exemplo, na tão controversa redução da TSU. Quando o Governo e os partidos subscritores do MoU se comprometem a uma "major reduction" de quanto é que se está a falar? Sabemos que não se trata de uma redução pequena e gradual, como, para efeitos eleitorais, tem prégado Sócrates. Mas não sabemos quanto nem como. Só esta questão, e há dezenas delas sensíveis à controvérsia, dá para excitar a opinião pública ao rubro e corroer o governo.

Uma coligação tripartida parece, neste momento, estar fora das perspectivas dos partidos da troica, apesar de ter sido, e continuar a ser, sugerida de vários quadrantes politicos. Do meu ponto de vista, que defendo praticamente desde quando iniciei este caderno, há mais de cinco anos, Portugal, na situação de crise em que se encontra há mais de uma dezena de anos,  precisa de um governo que represente a grande maioria a população. Será sempre um governo fraco o que deixar de fora a representação de quase 50% dos portugueses.
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Manuel Pinho apareceu num comício do PS para defender um novo bloco central. Pena é que Manuel Pinho não se tenha lembrado, enquanto foi ministro, que Portugal há muito precisa de um governo capaz de reestruturar a sua economia e, por tabela, as suas finanças públicas. Pena é que nem ele nem a entourage
do primeiro-ministro tenham influenciado Sócrates no sentido de abandonar a sua autosuficiência. Agora, corremos o risco de mudar de autosuficiente. Até o tição queimar as mãos de quem, autosuficientemente, lhe pega.
(Já me enjoa repetir-me)

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Oito anos,  depois, escrevi aqui

A SEGUNDA DERROTA DE PEDRO PASSOS COELHO

Hoje é dia de reflexão.
Reflictamos!

A 2 de Junho de 2011, quatro dias antes das eleições legislativas daquele ano,  coloquei neste caderno de apontamentos uma reflexão -
PASSAGEM DE TIÇÃO -.
Voltei durante estes oito anos algumas vezes ao tema, e hoje, véspera das eleições legislativas não encontro título mais apropriado para o que, segundo as últimas sondagens conhecidas, vais suceder: o PS ganha as eleições destacadamente, com 10 pp. acima do PSD.

Segundo as sondagens, as posições na grelha de partida em 6 de Junho de 2011 seriam estas: O PSD com 36% ganharia com 5 pp sobre o PS e o CDS atingiria os 11%. O PSD coligado com o CDS teria maioria absoluta na Assembleia da da República.

Os resultados foram estes:


O PSD atingiu os 38,63%, o CDS 11,74%, e Passos Coelho avançou, peito feito, para o touro troica.

Errou.

Errou, estrondosamente!

Apontei várias vezes neste caderno que, ao deixar de fora o PS e enfrentar uma situação que prometia ser escaldante, Passos Coelho pegou no tição ... e queimou-se irremediavelmente. Tanto mais que não só segurou o tição como o apertou e gabou-se disso.

Perguntar-me-ão: E se o PS não aceitasse fazer parte de um governo fortemente condicionado por um acordo com a troica de que o PS era o primeiro signatário? Perderia toda a razão para culpar mais tarde o governo de que recusara fazer parte.

Depois, foi o que sabemos. Nas legislativas de 2015 a coligação PSD/CDS ganhou - vd. aqui - por maioria relativa (36,86%) mas perdeu cerca de 14 pp relativamente às eleições de 2011, o PS subiu para 32,31% e António Costa inventou a geringonça. Catarina Martins reclama que foi ela quem deu a dica, Jerónimo de Sousa garante que foi ele quem falou primeiro.

Fosse quem fosse o inventor, o padrinho parece ter sido Vasco Pulido Valente e Portas o altifalante,

com o terreno terraplanado pela austeridade imposta pela dívida atingida, o governo de António Costa levantou voo a bordo da geringonça, e o PS fez um brilharete. 

Vai ganhar as eleições amanhã. E depois? Conseguirá António Costa reconstruir e fazer andar novamente a geringonça que, entretanto, resvalou e está em posição de cair pela ribanceira abaixo?

O PCP já adiantou que lhe dará apoio se António Costa aceitar anular a revisão das leis do trabalho que aprovou recentemente com o apoio do PSD. Coisa pouca, portanto. Passos Coelho estará à espera para se divertir com a vinda do diabo que, prematuramente, anunciou.
Mas não tem, nem ele nem os seus companheiros forcados amadores, razão para se regozijarem com a derrota de Rui Rio. Porque a derrota é deles. 

 

Monday, April 08, 2024

EM BICOS DE PÉS PARA UMA SELFIE

Marcelo pressiona Governo a dar estatuto "condigno" aos militares

... A mensagem do Presidente da República aos militares, neste domingo Dia do Combatente, foi rápida e teve apenas um foco: o pedido ao novo Governo que não desperdice o momento “irrepetível” e dê condições às forças armadas não só em termos de materiais, mas sobretudo condições aos recursos humanos. “Ou têm estatuto condigno para serem militares e se manterem militares ou pode desbaratar um momento irrepetível na nossa história”, disse. 

... “É tão simples perceber isto”, disse. Não se pode “desperdiçar mais tempo a descobrir o que devia representar há muito uma evidência”, acrescentou. Além do estatuto dos militares no ativo, Marcelo referiu ainda que “não se deve desbaratar de cumprir o que está por cumprir no estatuto do antigo combatente”....... "Isto porque força armadas fortes não são apenas “navios, aviões e blindados, mas são sobretudo quem os navega, pilota e conduz”, referiu. "Sem militares não há forças armadas fortes" e não há Portugal forte como nós o queremos hoje e sempre".

E quanto a todos quantos reclamam dignidade nos seus estatutos? agricultores, guardas prisionais, polícias, professores, oficiais de justiça, administração pública, e etc.?

Por quanto tempo pode um humano, por mais presidente que seja. manter-se em bicos de pés para selfies, sem perder o necessário equilíbrio para se manter, com dignidade, de pé?

Saturday, March 30, 2024

PRR JAPONÊS

PRR Japonês
PRR Portugês
- Descubra das diferenças a partir da segunda parte deste apontamento
 
Na página da Medeia FilmesEvil Does Not Exist - O Mal não Está Aqui. a sinopse do filme, começa pela referência elogiosa à carreira do realizador japonês Aku Wa Sonzai Shina, que lhe valeu diversos prémios. Não conhecemos outros filmes deste cineasta para além daquele que assistimos ontem, - no Nimas, uma sala modesta, sem pipocas nem coca cola, que se destaca dos buracos para projecção de filmes nos centros comerciais -  a abordagem feita pela generalidade das apreciações foca-se no aspecto mais saliente desta obra, a ecologia, as consequências decorrentes das agressões feitas ao equilíbrio natural do meio ambiente. Em resumo:
"Evil Does Not Exist - O Mal Não Está Aqui", o novo filme de Ryusuke Hamaguchi, pai e filha confrontam-se com a ameaça à sua vida em comunhão com a natureza. Filme é um conto ecológico sobre a construção de um parque de campismo de luxo".
 
O título que atribuí a este comentário, não corrige nem procura de algum modo contraditar as apreciações feitas pela generalidade da crítica especializada na arte cinematográfica porque apenas procura ver para além da temática central do filme que, no entanto, opta no fim por uma deriva que não é determinante para a pertinência da obra e que, pela minha perspectiva, o desvaloriza: um argumento menos forte tende a debilitar um argumento forte. 
 
O que no entanto parece ter escapado à generalidade dos críticos é a similitude entre as causas e as consequências em que se atravessam conveniências e conivências na subsidiação de planos de desenvolvimento económico e social (planos de recuperação e resiliência) após os anos de retrocesso da pandemia covid 19. 
No caso concreto que motivou este filme, e que parece corresponder, pelo menos parcialmente, a factos reais, uma empresa, supostamente especializada na caça de talentos, elabora um plano de instalação de um camping de luxo, destinado a altos quadros de grandes empresas situadas em grandes cidades (Tóquio é a 
referida no filme, como exemplo) que procuram férias num ambiente natural tão selvagem quanto possível para recuperarem da exaustão física e psicológica dos meses de trabalho intenso nos grandes centros urbanos. 
E enviam dois supostos talentos ao local onde vai ser instalado o camping de luxo para informarem os residentes, uma comunidade que ali vivia desfrutando a tranquilidade da natureza. 
É um requisito fundamental para aprovação do plano que os residentes sejam ouvidos, mas não necessariamente  atendidas as suas objecções. Os dois talentos, que se vem a saber depois que de talento terão pouco e conhecimento do assunto objeto da sua missão ainda menos, enfrentam, entre outras objecções dos residentes, uma  de ultrapassagem impossível para os dois talentos: o camping requer a instalação de uma fossa séptica que drenará os seus efluentes para os lençóis freáticos contaminando as águas puríssimas da região. 
Por esta razão, entre outras, voltam os dois talentos a Tóquio para transmitirem à direcção da empresa de caça de talentos as razões dos residentes. E que melhor seriam mesma que direcção ouvisse os residentes, presença, aliás, reclamada por estes.
Enfureceu-se a direcção à distância, a direcção está bem longe dali, ordenando aos dois talentos que voltassem ao local, e convencessem os residentes, se preciso fosse corrompendo o líder dos contestatários, caso contrário o projecto não seria atendido, a empresa perderia muito dinheiro e eles perderiam o emprego.
E que tudo deveria estar feito como devia, dentro dos prazos exigidos pelas regras de atribuição de fundos e subsídios atribuíveis segundo o plano de recuperação e resiliência após o tombo provocado pelo covid. 
Dos dois talentos, um desistiu, o outro terá morrido de exaustão.  

Lá como cá. Cá,  desde há muito tempo.
Escrevi aqui em 2 de Março: se ganhares, perdes; se perderes, ganhas.
Ganhou Montenegro.
O quê?


 

--- A propósito disto,